Um nome comum pode ser um nome de marca registrada?

por Nizia Montecinos | 7 junho 2022

Uma marca não é necessariamente um neologismo. E muito normal que um nome comum, ou seja, um signatário em uma determinada língua, seja usado como marca. Mas isso pode causar problemas legais quando esse nome comum é usado por outra marca para um de seus produtos. De fato, esse nome é um nome comum (podendo ser usado por todos) ou é um nome protegido?  

O princípio geral, conhecido como o princípio da especialidade da marca, é que um nome comum só pode ser validamente protegido como marca se não constituir um caráter ou qualidade essencial do produto ou serviço designado.  

Kinder uma marca da Ferrero

Um artigo de M. J. Watin-Augouard sugere o seguinte exemplo. No início da década de 1970, Michele Ferrero inventou uma guloseima feita de leite e chocolate. O nome escolhido é a palavra alemã que significa “crianças”: Kinder (das Kind “a criança”; die Kinder “as crianças”). O nome refere-se ao alvo do produto. Kinder é um grande sucesso com crianças e o nome rapidamente se torna uma marca bem estabelecida. Tão bem estabelecido que o Kinder se torna uma umbrella brand: diversificando a forma do produto ou diversificando o alvo (por exemplo, Kinder Bueno também é destinado a adultos). Desde então, Kinder não é só para crianças. 

Mas dada a sua notoriedade, nem sempre fica fácil saber se, comercialmente falando, Kinder tem o status de um nome comum ou de uma marca protegida. Em 2007, a confeiteira alemã Haribo lançou um novo produto: Kinder Kram (“Coisas infantis”). Ao mesmo tempo, o grupo Zott também estava lançando um doce chamado Kinderzeit (“Tempo das Crianças”). A Ferrero, então, tentou proibir esses produtos sob o pretexto de que eles usavam o nome de seu próprio produto.  No dia 20 de setembro do mesmo ano, o Tribunal Federal de Karlsruhe, Alemanha, decidiu que a palavra Kinder não poderia ser propriedade exclusiva da Ferrero. De acordo com o Tribunal, a Ferrero poderia proteger a imagem gráfica de seu produto, mas não a palavra Kinder, sendo uma palavra muito comum para uma marca se apropriar. A diferença na embalagem entre Ferrero Kinder, Haribo Kinder Kram e Zott Kinderzeit permitiu que os três produtos fossem comercializados simultaneamente. Em comparação com o princípio da especialidade, pode-se dizer que a palavra Kinder apareceu como um caráter essencial de um produto direcionado às crianças. Ainda assim, esta decisão invalidou um precedente caso sobre o mesmo tema: em agosto de 2007, o Tribunal Administrativo Federal, com sede na Suíça, havia negado à Jackson International Trading o direito de chamar um de seus produtos kinder Party argumentando que a palavra Kinder como marca registrada estava ligada apenas à Ferrero. 

Mas e as marcas do Brasil?

Um otimo exemplo brasileiro, é o da marca Baton – chocolate da empres Garoto- que não teve problemas relacionado ao registro da marca, uma vez que o nome não tem relação direta com o produto oferecido. Ja, se um marca de batom (ou de maquiagem) procura registrar o mesmo nome para um de seus produtos, o pedido de registro pode ser negado por ser um nome de uso corriqueiro do segmento.